Discriminação Linguística em Portugal: A Exigência do Português Europeu nas Vagas de Emprego e Seus Impactos sobre Profissionais Brasileiros

By Klein Bauer
4 Min Read

Recentemente, empresas em Portugal têm sido alvo de críticas por discriminarem a variante do português falado e escrito no Brasil nas vagas de emprego publicadas em sites de busca. A exigência da versão europeia do idioma como obrigatória gerou descontentamento entre profissionais brasileiros que buscam oportunidades no país. Esta situação levanta questões sobre a inclusão e a acessibilidade da diversidade linguística dentro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Profissionais brasileiros relataram que a exigência do português europeu se tornou um fator eliminatório em processos seletivos. A apuração do portal Portugal Giro confirmou que anúncios com essa exigência são comuns, tanto em sites de busca quanto em publicações no LinkedIn. As vagas abrangem diversas áreas, incluindo atendimento ao cliente, telemarketing, marketing digital e consultoria, refletindo uma prática que pode ser vista como discriminatória.

Mônica Branco, uma engenheira civil que vive em Portugal desde 2022, expressou sua indignação ao notar que essa exigência se tornou mais evidente desde o final de 2024. Ao procurar trabalho, ela encontrou vários anúncios que entregam “FLUENTE PORTUGUÊS EUROPEU (obrigatório)”, o que a levou a descartar a ideia de enviar seu currículo. Para Mônica, essa prática é uma forma de as empresas filtrarem candidatos, excluindo imigrantes e reforçando a discriminação contra a CPLP.

Cláudia Pinheiro, especialista em recolocação profissional de brasileiros em Portugal, também se surpreendeu com essa exigência. Ela observou que, em algumas áreas, como a jurídica, a formação em universidades portuguesas é um requisito para contratação, o que eliminava candidatos que se formassem fora do país. Essa prática, segundo Cláudia, é uma forma de discriminação que vai contra os princípios de igualdade e inclusão.

A Constituição de Portugal garante direitos pessoais e proteção contra qualquer forma de discriminação. O artigo 26.º assegura que todos têm direito a um tratamento igualitário, enquanto o artigo 240 do Código Penal protege a identidade cultural e a integridade pessoal. No entanto, na prática, a realidade é diferente, e muitos brasileiros enfrentaram barreiras linguísticas que dificultaram sua inserção no mercado de trabalho.

Apesar de os brasileiros serem a maioria dos trabalhadores estrangeiros em Portugal, a discriminação linguística persiste. Cláudia Pinheiro destaca que, embora a comunicação com clientes portugueses possa ser solicitada para os brasileiros, essa dificuldade não justifica a exclusão de candidatos com formação e experiência. A diversidade linguística deve ser valorizada, e as empresas precisam considerar o potencial dos profissionais que falam português brasileiro.

Para os brasileiros que desejam se adaptar ao mercado de trabalho em Portugal, Cláudia sugere a realização de cursos que abordem as diferenças linguísticas e culturais. Compreender o uso de verbos, pronomes e expressões típicas do português europeu pode facilitar a comunicação e a integração no ambiente profissional. Essa preparação é fundamental para que os imigrantes possam superar as barreiras impostas pela discriminação linguística.

Em suma, a exigência do português europeu nas vagas de emprego em Portugal representa um desafio significativo para os profissionais brasileiros. Essa prática não apenas limita as oportunidades de trabalho, mas também ignora a riqueza da diversidade linguística presente na CPLP. É essencial que as empresas adotem uma abordagem mais inclusiva, reconhecendo o valor dos profissionais que falam diferentes variantes do português e promovendo um ambiente de trabalho mais equitativo e respeitoso.

Share This Article
Leave a comment